segunda-feira, 11 de abril de 2011

REUNIÃO DE ORQUÍDEAS

Quase tudo são rosas
Na vida
Que não foi vivida.
Um furacão pode
Destelhar o cérebro.
Não importa a dor
Se é apenas vento.
O ventilador da vida alheia
Espalha por aí
Uma frescura esquisita.
Alguma coisa desceu
Do céu
E está andando comigo
Para todos os lugares.
Qual é a importância
Que tenho nesses dias?
Um anjo bêbado e feliz
Contando histórias.
Boas histórias
De outro lugar.
Um padre
Sem batina ou roupas
Me puxa para jogar sinuca.
A vida é cheia dessas coisas.
Somos personagens
De uma história
Que nunca acaba bem.
Na casa
Tem uma porção de orquídeas
Falando da reforma ortográfica.
O cheiro não é bom
Mas o papo
É bem intelectual.

Ceilândia 2009

TEXTO PUBLICADO NA NET SE REFERINDO A SIDINEY BREGUÊDO

sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Opinião: Brasiliense. Ou não...

Li o texto “Os muito brasilienses” da Conceição Freitas, que foi publicada no Correio Braziliense de 28 de outubro de 2009 e não agüentei, precisei comentar, pois ela tocou justamente num tema que nunca consegui engolir: a naturalidade brasiliense dos nascidos nas cidades-satélites de Brasília.

Na minha opinião a Conceição tem uma visão romantizada, para não dizer equivocada das coisas. Longe de mim querer tirar os méritos da jovem cidade criada para ser a capital do país, mas acredito que reduzir a naturalidade de tantas cidades diferentes, com características históricas e culturais singulares à única categoria de brasiliense é no mínimo pretensioso. Pretensioso, além de geográfica e culturalmente impossível, pois tanto Brasília quanto suas "satélites" pertencem a um único todo, que é o Distrito Federal.

Não há porque chamar ceilandenses, taguatinguenses, sobradinhenses de brasilienses. Isto é, de certa forma, usurpar a identidade cultural dessas pessoas. Pensemos bem: o que são as cidades-satélites? São cidades ao redor de Brasília, ou seja, são de Brasília, mas não são Brasília. E para quê chamar de brasiliense quem não nasceu em Brasília? Soa como uma forma de transmitir a idéia de democracia da nova capital federal. O velho papo-furado do regime democrático, onde todos têm voz. Uma idéia que pelo jeito funciona bem no plano do discurso, mas quem mora nas cidades-satélites sabe que a realidade é bem diferente disto. Experimente perguntar a qualquer um que mora em Brasília: você considera Samambaia, Gama, Recanto das Emas e as outras cidades-satélites parte de Brasília? Adivinha o que eles vão te responder...


Este assunto me lembrou uma tira em quadrinhos dos personagens “O padre e o anjo” do artista ceilandense Sidiney Breguedo, da qual transcrevo o diálogo a seguir.

Padre: - O Breguedo me criou, me criou na Ceilândia.
Anjo: - O que é a Ceilândia?
Padre: - A Ceilândia é uma cidade satélite!
Anjo: - Por que satélite?
Padre: - Porque tem que ficar lá no espaço, bem longe de Brasília!


O Breguedo disse tudo.
Os nascidos nas satélites só são aclamados como brasilienses quando ganham algum prêmio que possa trazer destaque à capital, como exemplo mais recente a Ketleyn Quadros, judoca campeã nas Olimpíadas de Pequim em 2008. Procure alguma notícia que a denomine ceilandense, como de fato ela é. Na hora da glória, todo mundo vira brasiliense...

Se nós, das satélites, fôssemos considerados realmente brasilienses como a Conceição diz, teríamos os mesmos direitos que a população de Brasília tem: jardins bem cuidados, mais segurança nas ruas, iluminação decente da cidade, asfalto em todas as vias, parques ecológicos para lazer da população, teatros, espaços culturais, museus, escolas públicas decentes, ah! Escolas-parque também...
Preciso falar mais alguma coisa?

Adriano Carvalho


Fonte: Por email.
Postado por + Ceilândia às 21:57 0 comentários

ANIMAIS E BICHOS

Não sou um severo defensor dos animais, muito embora acredite sermos todos responsáveis por aqueles indefesos seres pastando sem ofender a qualquer um. Sim, não sou ecologista, nem mesmo vegetariano. Quase toda sexta-feira desfruto de um delicioso churrasco temperado no sal grosso e feito com carne fresca. Então por que entrei no mérito de escrever esta crônica modesta, onde defendo os animais da violência gratuita que permeia as diversões dos homens. Ora, eu digo em instantes, mas primeiro quero devanear sobre a estupidez humana, tão em evidência nesses dias modernos. Assim falo porque tenho escutado sobre pesquisas estapafúrdias em que alguns animais não sentem dor. Ora, de que dor falam? A dor do amor, talvez, e assim não me fazem acreditar em tamanha asneira. A verdade é que os cavalos não amam? O sexo deles, soltos nos descampados campos verdes, parecem ter mais sentido que o nosso nos atribulados bailes funks. Mas não é de amor que pretendo falar, muito embora esta substância andrógena inexplicável tenha uma severa relação com a dor.
É sobre a dor dos animais esta dissertação. As desculpas mais comuns nos levam a crer que os peixes não sentem dor. Uma imensidão de notícias torna a pesca atividade saudável e familiar. Mas experimente puxar um peixe de dentro do seu ambiente com um mortífero anzol e vê-lo debater-se até a exaustão. Verá, meu amigo, que até os animais desistem da vida. Chega um momento em que para de se debater, muito cansado, e se entrega ao seu destino sendo sufocado pela poluição humana. Eu não posso acreditar que os peixes pensam. Então por que lutam contra o anzol, se não sentem dor? Será que buscam desesperados a liberdade porque leram a carta política francesa? Ou ainda, será que mordem a isca porque invejam a estupidez dos pinces que infestam os corpos dos homens? Não, nenhuma destas idéias corrobora com a lógica natural. Os peixes sentem dor e muitas vezes, buscando escapar daqueles inconvenientes arames em suas bocas debatem-se até a morte.
Não pense nestes seres como apenas reserva natural posta à disposição do nosso prazer e gozo. Não quero saber se as baleias choram ou se os macacos aprendem lógica. Isso, de fato, não se assevera importante. Mas preciso fazer uma análise quanto ao fato de amarrando um cavalo pelo pescoço com uma corda poder trazê-lo facilmente. Então por que não é tão fácil com os peixes, se eles não sentem dor?
Dúvida profunda desdenha da minha alma pouco humana quando penso no contrário. Um homem poderia estar passando próximo a um rio e um enorme anzol emergiria ansioso lhe fisgando pela boca. Arrastaria este débil mental para as profundezas e o deixaria se debater até a morte por asfixia.

UM QUILO DE POESIA

O espelho não mente,
É a sentinela na porta
Da imortalidade.
Não sei se estou ficando
Velho;
Ou se estou morrendo.
Os cabelos estão embranquecendo,
As espinhas estão parando de vir,
A respiração está ofegante,
Mas o mais difícil de entender:
Está mais fácil
Ganhar dinheiro.
Acho que estou morrendo.
O espelho não mente,
É a sentinela na porta
Da imortalidade.
A poesia ficou mais salgada,
Como se uma crosta pesada
De falsa vaidade
Tivesse saído dela.
E vem a razão de tudo,
O motivo porque escrevo.
Não existe semente
Que perdure nossas lembranças.
Só um livro velho
Me fará ser lembrado.
Não existem ações boas,
Não existem crimes,
Tudo fenece.
Jogam sobre a vida
Uma pá de cal,
Onde nem flores nascem.
O dedo martela as teclas do computador,
Quanto mais tempo passa
Mais sentido tem tudo isso.
O poema sendo esculpido
Com o tempo,
Mas o homem está morrendo.
O espelho não mente,
É a sentinela na porta
Da imortalidade.
Entrada: um quilo
De boa poesia.


ceilândia 2009